Papel do médico da família na epidemia de Dengue: como se preparar?
A dengue é um dos maiores desafios de saúde pública atuais no Brasil, com mais de 1.000 mortes pela doença até fevereiro de 2024, segundo o Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde. Nesse contexto, é essencial que os médicos estejam preparados para lidar com a epidemia de dengue, especialmente os médicos da família, que desempenham um papel crucial no tratamento e na prevenção da doença.
A gravidade da situação da dengue no Brasil exige uma resposta eficaz por parte dos profissionais de saúde. Os médicos da família são frequentemente a primeira linha de contato para os pacientes, tornando-se essenciais na identificação precoce, no tratamento adequado e na orientação sobre medidas preventivas. Além disso, eles têm um papel fundamental na educação da comunidade sobre a dengue e na promoção de hábitos saudáveis que ajudem a prevenir a proliferação do mosquito transmissor.
Quer entender melhor sobre a dengue e o papel dos médicos no combate a essa enfermidade? Confira todos os tópicos que elaboramos para você a seguir. Boa leitura!
Índice do conteúdo
Dengue no brasil: situação atual
A dengue é um problema de saúde pública persistente no Brasil, com casos sendo registrados desde a década de 1980. A situação atual da doença é alarmante, com mais de 2,3 milhões de casos prováveis apenas nos primeiros meses de 2024, superando em mais de 500 mil todos os diagnósticos do ano anterior. A epidemia de dengue no Brasil é multifatorial, sendo influenciada por diversos fatores, como o clima tropical favorável à proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, e condições socioeconômicas que propiciam o acúmulo de água parada, ambiente ideal para a reprodução do vetor. A falta de medidas efetivas de prevenção e controle, juntamente com a falta de continuidade na adoção dessas medidas, contribui para a recorrência das epidemias. Embora vacinas contra a dengue tenham se tornado disponíveis recentemente, seu impacto ainda não é plenamente conhecido, e a erradicação da doença permanece um desafio no país.
Epidemia de dengue: como médicos podem se preparar?
A dengue é uma doença viral transmitida principalmente pela picada do mosquito Aedes aegypti infectado. No Brasil, a dengue é um problema de saúde pública, com epidemias ocorrendo anualmente, especialmente durante os meses mais quentes e chuvosos. Os sintomas da dengue geralmente começam a se manifestar de 4 a 10 dias após a picada do mosquito infectado e podem durar até duas semanas. A doença é caracterizada por febre alta (geralmente acima de 39°C) de início abrupto, acompanhada por outros sintomas como dor de cabeça intensa, dor atrás dos olhos, dores musculares e articulares intensas, fadiga e erupção cutânea. Cerca de metade dos pacientes com dengue também apresentam sintomas gastrointestinais, como náusea, vômito e dor abdominal.
Diagnóstico da Dengue
É importante destacar que a dengue pode se apresentar de forma grave, com o desenvolvimento de sinais de alarme e complicações potencialmente fatais. De acordo com o Ministério da Saúde, os sinais de alerta incluem: febre (39°C a 40°C) de início repentino e pelo menos duas das seguintes manifestações: dor de cabeça, prostração, dores musculares e/ou articulares e dor atrás dos olhos – deve procurar imediatamente um serviço de saúde, a fim de obter tratamento oportuno.
No entanto, após o período febril deve-se ficar atento. Com o declínio da febre (entre 3° e o 7° dia do início da doença), sinais de alarme podem estar presentes e marcar o início da piora no indivíduo. Esses sinais indicam o extravasamento de plasma dos vasos sanguíneos e/ou hemorragias, sendo assim caracterizados:
- Dor abdominal (dor na barriga) intensa e contínua;
- Vômitos persistentes;
- Acúmulo de líquidos em cavidades corporais (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico);
- Hipotensão postural e/ou lipotímia;
- Letargia e/ou irritabilidade;
- Aumento do tamanho do fígado (hepatomegalia) > 2cm;
- Sangramento de mucosa; e
- Aumento progressivo do hematócrito.
Classificação da Dengue
- Sem sinais de alarme: pacientes sem comorbidades que não apresentam sinais de alarme.
- Com sinais de alarme: pacientes sem comorbidades que apresentam petéquias espontâneas ou prova do laço positiva, ou pertencem a grupos de risco (menores de 2 anos, gestantes, maiores de 65 anos, ou comorbidades como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal crônica, hepatopatia, doenças hematológicas, imunossuprimidos).
- Dengue grave: pacientes com sinais de choque, sangramento grave ou disfunção orgânica.
Tratamento da Dengue
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para reduzir a morbimortalidade associada à dengue. O tratamento da dengue é principalmente sintomático, com foco no alívio dos sintomas. A hidratação adequada é essencial, especialmente em pacientes com sinais de alarme ou dengue grave. Em casos graves, pode ser necessário o uso de terapia de reposição de líquidos intravenosos e monitoramento rigoroso.
- Grupo A (Sem sinais de alarme): tratamento ambulatorial.
- Grupo B (Com sinais de alarme): internação e observação até resultados de exames.
- Grupo C (Dengue grave): internação por período mínimo de 48 horas.
- Grupo D (Dengue grave com sinais de choque): internação em leito de terapia intensiva.
O tratamento é baseado principalmente na reposição de líquidos adequada. Por isso, conforme orientação médica, em casa deve-se realizar:
Repouso;
Ingestão de líquidos ( a ingestão de liquidos deve ser intensificada mesmo para os casos sem sinais de alarme).
Não se automedicar e procurar imediatamente o serviço de urgência em caso de sangramentos ou surgimento de pelo menos um sinal de alarme;
Retorno para reavaliação clínica conforme orientação médica.
Não devem ser usados antiinflamatórios e nenhum medicamento a base de aspirina.
Quanto à prevenção, ela vai além do uso de repelentes e inclui:
- Uso de telas nas janelas e repelentes em áreas de reconhecida transmissão;
- Remoção de recipientes nos domicílios que possam se transformar em criadouros de mosquitos;
- Vedação dos reservatórios e caixas de água;
- Desobstrução de calhas, lajes e ralos.
Complicações e conduta em situações especiais
Monitorar pacientes com evidência de sobrecarga volêmica e considerar ultrassonografia point-of-care para identificação precoce de sinais de congestão pulmonar. Avaliar o risco de sangramento versus o risco de trombose e ajustar a medicação conforme necessário.
O papel do médico da família na epidemia de dengue
O médico da família desempenha um papel crucial no combate e tratamento da dengue no Brasil, especialmente durante epidemias. Sua atuação vai além do diagnóstico e tratamento individual dos pacientes, abrangendo também ações de prevenção, educação em saúde e orientação à comunidade.
Diagnóstico e tratamento
O médico da família é muitas vezes o primeiro profissional de saúde a entrar em contato com pacientes suspeitos de dengue. Sua habilidade em reconhecer os sintomas característicos da doença e identificar sinais de alarme é fundamental para um diagnóstico precoce e um tratamento adequado, o que contribui significativamente para a redução da morbimortalidade associada à dengue.
Atenção primária à Saúde
A Atenção Primária à Saúde desempenha um papel fundamental no enfrentamento da dengue, pois é onde a maior parte dos casos é diagnosticada e tratada. O médico da família, como principal profissional de saúde nesse nível de atenção, tem a responsabilidade de coordenar o cuidado dos pacientes com dengue, garantindo o acesso oportuno e adequado aos serviços de saúde e promovendo a continuidade do tratamento.
Educação em saúde e prevenção
Além do diagnóstico e tratamento, o médico da família também tem um papel importante na educação em saúde e na prevenção da dengue. Ele pode orientar a população sobre medidas simples, como eliminar recipientes que acumulam água parada e usar repelentes, que são fundamentais para reduzir a proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor da doença.
Vigilância epidemiológica
O médico da família também contribui para a vigilância epidemiológica da dengue, notificando casos suspeitos às autoridades de saúde e participando de ações de monitoramento e controle da doença em sua área de atuação. Essas informações são essenciais para o planejamento e execução de estratégias de prevenção e controle da dengue.
Avanços no combate à dengue
O Ministério da Saúde do Brasil está enfrentando o aumento de casos de dengue com ações coordenadas e intensificadas. Uma das principais medidas foi a incorporação da vacina contra a dengue, chamada Dengvaxia, em regiões endêmicas. A vacinação será realizada em 521 municípios a partir de fevereiro, focando em crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos, faixa etária com maior número de hospitalizações por dengue.
O esquema vacinal consistirá em duas doses, com intervalo de três meses entre elas. Essa iniciativa torna o Brasil o primeiro país do mundo a oferecer a vacina contra a dengue no sistema público universal. A definição do público-alvo e das regiões prioritárias levou em conta a capacidade limitada de fornecimento de doses pelo laboratório fabricante da vacina. O Ministério da Saúde adquiriu 5,2 milhões de doses para 2024 e já contratou 9 milhões de doses para 2025, buscando ampliar a proteção contra a dengue.
Vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan
A candidata a vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan apresentou resultados bastante positivos, com eficácia de 79,6%. No entanto, ainda precisa finalizar os ensaios clínicos e passar por processo regulatório antes de ser disponibilizada à população. A dengue é uma doença febril aguda caracterizada por dor pelo corpo, febre alta, vermelhidão, dor de cabeça e outros sintomas, causada por um vírus que apresenta quatro sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4.
Em alguns casos, pode se intensificar ao final da primeira semana e se tornar grave e até fatal em uma pequena parcela das pessoas, com a apresentação de sangramento, queda de pressão e/ou choque. Os mais vulneráveis à dengue grave são crianças pequenas e idosos, pessoas com comorbidade e imunossuprimidos.
A vacina do Butantan é de dose única e oferece proteção contra os quatro sorotipos da dengue, sendo uma importante ferramenta no combate à doença. Para os médicos, é essencial entender a complexidade da vacinação contra a dengue, que exige ação contra os quatro vírus ao mesmo tempo. A vacina do Butantan mostra-se promissora, mas ainda passará por avaliações rigorosas antes de ser disponibilizada à população.
Medicina da família: essencial no combate a epidemias
No combate à epidemia de dengue, o papel da medicina da família é essencial. Ao estarem próximos às comunidades, esses profissionais têm a oportunidade de implementar medidas preventivas eficazes, identificar precocemente os sintomas da dengue e aplicar tratamentos adequados. O médico da família é uma peça-chave na redução da morbimortalidade associada à doença, oferecendo cuidados integrais e humanizados aos pacientes.
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