Canabidiol na Psiquiatria: um novo olhar sobre os transtornos de ansiedade

Os transtornos de ansiedade estão entre as condições mais comuns na prática clínica e impactam profundamente a qualidade de vida dos pacientes. Diante desse cenário, cresce o interesse por novas alternativas terapêuticas que possam complementar ou até potencializar os tratamentos já existentes.
Entre essas possibilidades, o canabidiol (CBD) vem ganhando espaço na psiquiatria, especialmente nos casos de ansiedade. Mas o que a ciência já sabe sobre seus mecanismos, efeitos e resultados clínicos? É isso que vamos explorar neste artigo.
Índice do conteúdo
- 1 Ansiedade: sinais, sintomas e impacto na vida do paciente
- 2 O que acontece no cérebro da ansiedade?
- 3 Tratamentos atuais: onde estamos hoje
- 4 Canabidiol e ansiedade: como ele atua no cérebro?
- 5 O que dizem os estudos pré-clínicos?
- 6 Evidências clínicas: o que já sabemos em humanos
- 7 O futuro das pesquisas com CBD na ansiedade
Ansiedade: sinais, sintomas e impacto na vida do paciente
A ansiedade não é apenas “preocupação excessiva”. Ela envolve sofrimento intenso e prejuízo funcional. Dois quadros merecem destaque:
- Transtorno de Ansiedade Social (TAS): antes conhecido como fobia social, caracteriza-se por medo e evitação de situações sociais devido a receio de julgamentos ou avaliações negativas. Surge geralmente na infância ou adolescência e pode persistir na vida adulta, afetando de 5% a 15% da população ocidental.
- Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): marcado por preocupações persistentes e difíceis de controlar, que comprometem o bem-estar e o desempenho diário. Além da ansiedade psicológica, é comum que o paciente apresente sintomas físicos como fadiga, tensão muscular e alterações no sono.
Ambos os quadros frequentemente estão associados a outras condições psiquiátricas, como depressão, o que torna o diagnóstico e o manejo ainda mais complexos.

O que acontece no cérebro da ansiedade?
Pesquisas apontam que os transtornos ansiosos envolvem alterações neurobiológicas bem definidas:
- TAG: estado crônico de alerta e reatividade exagerada a estímulos, com redução na conectividade entre a amígdala (centro do medo) e o córtex pré-frontal (regulador das emoções).
- TAS: alterações em circuitos que envolvem amígdala, ínsula, hipocampo e córtex orbitofrontal, prejudicando a forma como o cérebro processa situações sociais.
Esses achados ajudam a compreender por que a ansiedade é tão resistente em alguns casos e por que diferentes abordagens terapêuticas podem ser necessárias.
Tratamentos atuais: onde estamos hoje
O tratamento tradicional dos transtornos de ansiedade combina medicação e psicoterapia.
- Medicamentos de primeira linha: ISRS (como fluoxetina e sertralina) e IRSN (como venlafaxina e duloxetina). Eles demoram de 4 a 8 semanas para fazer efeito e podem causar efeitos colaterais, como ganho de peso e redução da libido.
- Benzodiazepínicos: atuam rapidamente, mas o risco de dependência limita seu uso a situações agudas.
- Segunda linha: pregabalina, gabapentina e quetiapina, com perfil de efeitos colaterais específicos.
- Terapias complementares: TCC (terapia cognitivo-comportamental), mindfulness e, no caso do TAS, uso de betabloqueadores como propranolol para controlar sintomas em situações de desempenho.
Apesar das opções, muitos pacientes não alcançam resposta completa, abrindo espaço para novas possibilidades como o Canabidiol.
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Canabidiol e ansiedade: como ele atua no cérebro?
O Canabidiol ainda está em estudo, mas já se sabe que ele interage com diferentes receptores no sistema nervoso que regulam o medo e a ansiedade. Entre eles:
- Receptores de serotonina 5-HT1A.
- Receptores canabinoides CB1 e CB2.
- Receptores TRPV1 (envolvidos na resposta ao estresse).
Além disso, o Canabidiol pode aumentar os níveis de anandamida, um endocanabinoide que promove sensação de bem-estar, ao inibir a enzima FAAH (responsável por sua degradação).
Imagens cerebrais mostram que, após administração de Canabidiol, há alterações no fluxo sanguíneo em áreas relacionadas à ansiedade, como amígdala, hipocampo e córtex cingulado.
O que dizem os estudos pré-clínicos?
Experimentos com animais foram fundamentais para abrir caminho às pesquisas em humanos. Testes comportamentais em ratos e camundongos mostraram que o Canabidiol pode:
- Reduzir comportamentos de medo e ansiedade.
- Atuar como ansiolítico, antiestresse e até antipânico.
- Produzir efeito em curva dose-resposta (doses muito altas ou muito baixas perdem eficácia).
Esses achados sustentaram a hipótese de que o Canabidiol poderia ter efeito semelhante em pessoas.
Evidências clínicas: o que já sabemos em humanos
Os primeiros estudos clínicos começaram nos anos 1980, liderados no Brasil pelo Prof. Zuardi, e indicaram que o Canabidiol poderia reduzir efeitos negativos do THC e ter ação ansiolítica.
Desde então, pesquisas mostraram que:
- Doses únicas de 300 a 600 mg podem reduzir sintomas de ansiedade em situações como falar em público.
- Em profissionais de saúde durante a pandemia de COVID-19, o uso diário de 300 mg de CBD por 4 semanas diminuiu sintomas de ansiedade, depressão e burnout.
- Estudos com soluções sublinguais de Canabidiol full spectrum também sugerem benefícios no humor, sono e qualidade de vida.
Entretanto, os estudos ainda apresentam limitações: amostras pequenas, maioria com voluntários saudáveis e dificuldade em estabelecer uma relação clara entre dose, níveis sanguíneos e resposta clínica.
O futuro das pesquisas com CBD na ansiedade
Casos abertos e retrospectivos sugerem que doses diárias entre 25 e 175 mg podem ajudar pacientes com TAG, mas ainda faltam estudos controlados que confirmem esses dados.
O cenário mais promissor é um estudo clínico de fase 3 em andamento, que avalia cápsulas de óleo de CBD em doses de 200 a 800 mg, comparando com placebo em pacientes com TAG, TAS, transtorno do pânico e agorafobia.
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Publicado no dia 02/09/2025.
*O texto é uma adaptação do artigo Canadibiol na Psiquiatria: Transtornos de Ansiedade que você pode encontrar de forma integral no InforMed.